domingo, 30 de setembro de 2012

Inácio

  Lá estava o Inácio, o senhor Inácio, que agora estava com a barba crescida. Seu olhar ao longe dentro daquele ônibus sacolejante, denotava o quanto de conhecimento de mundo habitava em sua mente. Suas experiências antigas, sonhos de uma juventude que jamais voltará.
  Inácio carrega consigo diversas amarguras, um sabor triste que a vida lhe proporcionara nesses últimos anos, como a morte de seu jovem filho, acometido de uma doença que levou-o a óbito.
  João era trabalhador e não fugira de aprontar o que um filho daquela idade geralmente aprontaria, como festas até altas madrugadas e a bebida. Mas sim, João fora um bom filho, quando sua irmã se mudou para viver em outra casa com seu marido e filha (a doce neta de Inácio), foi ele quem fez companhia ao pai todos os dias, naquela casa pequena, simples e solitária.
  Mas Inácio não gosta dessas lembranças, elas o entristecem, e sinceramente não crê que nesse ponto de sua vida, o sentimentalismo e o sofrimento seja bem vindo, ele somente trata de prosseguir com a caminhada da vida que lhe fora proposta. Segue seus dias na obrigação de vivê-los.
  Seu olhar é sempre profundo, sério, rosto carrancudo, não há muito oque comemorar, cumpre com suas poucas obrigações diárias. Vai ao médico periodicamente, e esta é sua vida.
  Se o pensamento viaja ao passado, a lembrança é do jovem valente que tanto já fez, sua vida fora marcada por brigas, festas, tombos... Fora muito o que vivera, e muitas pessoas que conhecera. Ele passa seus dias evitando lembrar, mas vez e outra  o pensamento o assalta, o sequestra e o leva para o passado, de forma tão súbita que sentado em seu velho sofá, poderia viver ali, horas imóvel.
  O jovem do passado que foi forte e cheio de planos, esses que não incluíam, estar em uma casa só, completamente só. Excetuando é claro, o período diário que se dedica a cuidar de sua Neta. Porém é sozinho que dorme, e sozinho que acorda, nessa solidão imensa. E isso, ele nunca imaginaria.
  O que ele evita com certeza são crises existenciais, afinal de contas, naquela idade, oque se quer é descanso,para o corpo e mente. O que sabe é que um dia Sua Hora irá chegar, a Hora de se despedir desse mundo, ir embora para um lugar que ele não sabe se existe. Para ele não importa classificar sua vida em alegre ou triste. Inácio, simplesmente está vivo.