sábado, 6 de outubro de 2012

Como é Bom Ser Criança! Parte 1- Pedro




Ele já chegou correndo e passando por debaixo da mesa, exaltou um grito e levantou o braço ao alto imitando um super-herói.
 Nunca vi criança mais feliz que o Pedro, e até admiro a alegria infantil em geral, pois é genuína, é verdadeira, é inocente. Mas o Pedro parece ter uma energia a mais, parece estar sempre ligado nos 220 Volts.
 Suas brincadeiras e sorrisos sapecas demonstram que além de fofo, Pedro é muito esperto e inteligente, sempre que aparece se torna facilmente o centro das atenções, pois quem dera um adulto tão cheio de afazeres, isso ou aquilo, ter metade de sua alegria e espontaneidade.
 Quando o vejo gosto de  apertar suas gordas bochechas conversar, notar sua inteligência e esperteza se desenvolvendo sempre mais, fico também calada, parada, observando e refletindo... Gente! Quem dera se existissem adultos felizes assim.
 E percebo o quanto perdemos por crescer, perdemos o sorriso espontâneo, a alegria sincera, o sentimento real. E criamos também, intrigas, brigas e confusões.
 E ele despistou os monstros da recepção, e correu aos braços do seu fiel escudeiro e companheiro de lutas e batalhas: o Tio Neto! Subiu as escadas numa escalada arriscada, e desceu correndo com medo dos monstros lá de cima, do alto do pico da neblina que queriam por tudo apertar suas bochechas.
 Se as pessoas vissem a vida e os problemas como o Pedro, não como monstros é claro, pois isso fazemos direitinho, mas se considerássemos a história diária  como brincadeira e nos víssemos como super-heróis, a humanidade seria diferente, a convivência sorridente, e nossa espécie ao invés de se destruir, destruiria com a depressão, acabaria com as brigas e iriamos nos ajudar, afinal de contas, seriamos companheiros de batalha e principalmente de brincadeiras. Quando nos desentendêssemos, apontaríamos o dedinho mindinho para o outro e selaríamos a paz. Nações selariam a paz assim...
 Aí agente acorda, ou melhor, agente cresce. Paramos de brincar e tornamos a vida como uma obrigação, matante e cansativa.
 Deixamos de nos comunicar amigavelmente com as pessoas, criamos preconceitos, também acabamos ou acabam com nossa capacidade criativa e nos tornamos... Nós! assim como somos.
 E no final das contas, não interessa nada disso, porque o Pedro virá aqui, vai gritar, vai rir, acessar jogos online sem nem ao menos saber ler, vai passar por debaixo da mesa e subir em cima do sofá, vai correr pelo corredor e gritar ao mesmo tempo, enquanto os alunos estão na aula. Nós o mandaremos parar, e ele vai fugir para as neblinas, só que antes vai comer um churros de chocolate e um picolé de uva, e será sempre ele, o Pedro. Feliz. E nós, os adultos amargurados, cansados e ressentidos, que nos tornamos crianças por segundos quando o Pedro contagia o ambiente. E quando ele for embora? ... Amargura, cansaço...