sábado, 8 de março de 2014

Todo maltrapilho

 Passando rapidamente por uma avenida movimentada, pela janela do ônibus, notei algo que embora tenha durado alguns segundos diante de minha visualização, pareceu-me um tempo muito maior do que  os tais segundos. Um tempo maior do que o próprio tempo possa carregar. Uma eternidade que eoa mente à dentro.


 Lá estava ele, no meio da calçada daquele importante centro comercial de uma região metropolitana. Sim. No meio da calçada, sentado no chão, "de pernas de índio". Não no canto. Não na parede. No meio da calçada.

 Todos que passavam por ali, mal o notavam, e se o percebiam, passavam de largo. Pessoas apressadas, chegando do trabalho, fazendo compras, correndo até o ponto de ônibus, falando ao celular, conversando em disparada entre si, andando muito rápido, gesticulando, olhando no relógio. Pessoas bem penteadas, arrumadas, outras enfadadas pela rotina diária, pessoas apressadas.

 Na avenida os carros aceleravam naquele ponto na tentativa de atravessarem o sinal antes do vermelho. Se não desse tempo, "ai!", paravam estressados, olhando no relógio, fixavam o olhar no semáforo implorando para que abrisse logo. O maior dos enfadados, daria uma afrouxada na gravata, olharia de lado, veria ele, retornaria o olhar de repulsa para frente, o sinal abriria e o motorista aceleraria com tudo para bem longe dali tentando chegar rápido em algum lugar, fazendo-se esquecer daquela cena num rápido e insignificante instante do tempo. Pessoas apressadas.

 Ele ria. Sim, ele estava sentado no meio da calçada, com pernas cruzadas, como de índio, rindo. Ele dava gargalhadas ali sozinho, ou não tão sozinho assim.

 Ele estava todo maltrapilho, sujo, os olhos vermelhos de quem talvez tenha tomado umas e outras por aí, e além de tudo, ria.

 Parei um tempo e fiquei imaginando os motivos pelos quais ele poderia estar assim tão sorridente, que no campo de visão dele a vida poderia não ser tão engraçada, mas as pessoas talvez sim. Elas que corriam de um lado para o outro, trombando umas nas outras, desviando o caminho ao passar por ele, pensando em tudo e ao mesmo tempo não pensando em nada. Elas que talvez nem se dessem conta do mundo que as rodeia, não param diante da vida, correm porque tem que correr, mas ele estava ali parado e rindo.





Um comentário:

  1. Correm, correm, e na maioria das vezes quando param, percebem que não saíram do lugar, as pessoas normais são tão estranhas. (Risos) Belíssimo texto.

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